segunda-feira, 14 de maio de 2012

Jaguaruana cuida de seus lugares de memória?

Passei este último final de semana em Jaguaruana. O objetivo da família era viver o dia das mães ao lado da minha querida avó materna, nossa pequena borboleta, Marieta Camilo. Minha esposa foi ver sua mãe e eu tinha a companhia da minha e de meu pai. Foi muito bom. Mas sempre que volto à Jaguaruana, aproveito para ver o maior número de amigos. Nunca dá para ver todo mundo, mas não perco a oportunidade de abraçar o maior número possível.

Aproveitei também para rever os lugares da minha infância, juventude e início da vida adulta e profissional. Passeei na Praça Francisco Jaguaribe – praçinha da igreja, participei da missa dominical na matriz de Senhora Sant’Ana, estive na Escola Manuel Sátiro durante a excelente e animada festa das mães do Colégio UNIC e visitei a instalações do CECA – Centro Educacional Cônego Agostinho.

Quando vi a parte do Cônego Agostinho localizado à Av. Simão de Góis, entendi que o tempo tem passado, mas mesmo diante de tantas lições, parece que não aprendemos com os diversos exemplos que a vida insiste em nos dar. Deparei-me com a construção do que julgo serem dois pontos comerciais no lugar onde antes funcionava uma sala de aula do referido colégio.

Digo, julgo, porque o estilo que se apresenta a construção em nada lembra um centro de pastoral, de convivência religiosa ou mesmo uma escola dominical, como se veiculou um dia que se tornaria o prédio do CECA. Foi um choque, mas mesmo assim busquei compreender tal empreendimento. Não consegui.

Minha falta de perspicácia foi logo aviltada pela lembrança da febre que dominou o Brasil nas décadas de 1980 e 1990. Nestes tempos, vários prédios históricos foram demolidos no país inteiro para dar lugar a outros equipamentos de natureza mais rentável, do ponto de vista financeiro. Foram inúmeros cinemas, escolas, sede de antigas entidades classistas e até religiosas que se tornaram shoppings, igrejas e estacionamentos.

Jaguaruana parece ser uma cidade onde a novidade está constantemente tomando o lugar das coisas antigas. A parti do que vi, penso que o passado e o presente são personagens de um imenso conflito. O resultado desta disputa, muitas vezes, é apenas o vazio que fica quando algo antigo desaparece. Não se percebe que o “novo” não pode ser eternamente novo. Ele também se torna velho, e um dia, simplesmente, pode desaparecer.

A repórter Ana Cecília Soares, referindo-se à Fortaleza, em matéria publicada no Diário do Nordeste em 19 de setembro de 2009 disse: “A memória não é feita só de pessoas, personagens e cenas. Lugares como praças, prédios, casas e monumentos também são carregados de lembranças. Há muito de “carne”, afeto e histórias cravadas em meio ao concreto.” Para ela, as edificações participam da formação da identidade de um povo, contam-nos uma parte importante das relações entre cidades e seus habitantes. E eu acredito estritamente nisso! Acho que a lição serve para Jaguaruana também.

Foi triste demais ver o que vi. E senti mais: o conjunto da população parece não se importar muito. Todos ficam atônitos com a novidade, mas no lugar da dúvida, do questionamento e posteriormente da repulsa, parece que as pessoas ficam entorpecidas com o novo.

Precisamos preservar nossa memória coletiva, nosso patrimônio material e imaterial e não devemos permitir que as coisas apenas se desfaçam com o passar do tempo. Se permanecermos assim, logo mais correremos o risco de não saber mais quem somos.

Publicado originalmente em
http://www.jaguaruananews.com/colunas/234-jaguaruana-cuida-de-seus-lugares-de-memoria.html

Um comentário:

  1. Faz um tempinho que eu quero pensar que algumas coisas em Jaguaruana são feitas por "capricho ou interesses somente financeiros (tipo esse episódio com o prédio do CECA), mas aí "retorno" ao meu bom senso (leia-se: finjo que acredito) e prefiro me iludir com a ideia de que tudo isso tem um bom objetivo ou ao menos uma boa intenção. Espero sinceramente que esse "estrago" todo traga algum benefício à população da nossa Jaguaruana. Queria muito que as pessoas pudessem um dia compreender que nem tudo é de valor material e que as lembranças não morrem, como as pessoas que são facilmente esquecidas por alguns...

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