quarta-feira, 28 de setembro de 2016

As eleições na cidade de Jaguaruana – entre os candidatos e seus eleitores

Não. Esse texto não é sobre o barulho das motos e dos carros de som, os fogos, as histórias de viradas, os insultos de palanque, os afetos e desafetos que a disputa entre os eleitores de Ana Teresa e Roberto da Viúva tem protagonizado nesses dias que se encerram nessa quinta-feira com os últimos movimentos públicos das campanhas eleitorais. Digo públicos, porque quem conhece a política feita em nossas cidades do interior do Ceará (acho que poderia ser do país inteiro, não?), sabe que a campanha só acaba mesmo quando os ponteiros do relógio virar 17:01 h no próximo domingo.


O que gostaria de falar mesmo é sobre o perfil dos (as) candidatos (as) à Câmara Municipal de nossa cidade e sua relação com o perfil dos eleitores da nossa cidade.


Apenas uma visita despretensiosa no site do Tribunal Superior Eleitoral, na aba http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais-2016/candidaturas nos deu a chance de conhecer um retrato interessante desses cenários. Os homens e mulheres que dispuseram seus nomes para o processo eleitoral tem um rosto, um projeto, desejos e discursos que todos deveriam conhecer e assim poder escolher com maior consciência.


No site http://vereador2016.com/candidatos-a-vereador-2016/jaguaruana-ce podemos ver outras questões mais específicas da campanha como o patrimônio dos (as) candidatos (as), suas propostas, filiações partidárias, doadores e as respectivas doações recebidas para a campanha e até mesmo as despesas feitas durante o pleito. Isso caracteriza a transparência necessária do processo e a disponibilidade dos candidatos (as), que ao informar tais questões, respeitam a lei e já iniciam suas vidas públicas inspirando conformidade com o desejo do povo.


Jaguaruana tem 49 candidatos (as) à Câmara Municipal. São 35 homens e 14 mulheres. Destes, 44 declaram-se brancos, quanto à cor da pele e outros 5, declaram-se pardos. 24 informaram ser solteiros e 23 são casados. Há ainda um (a) candidato (a) que é viúvo (a) e um que declarou ser divorciado (a).


A maioria dos candidatos (26) tem mais de 40 anos de idade. A candidata mais jovem tem 25 anos e o candidato de maior trajetória de vida conta 70 anos.


E o que fazem nossos (as) candidatos (as)? A maioria já é vereador (a) atualmente e assim se declararam. São 12 no total. Outros 8 declararam ser agricultores (as). Temos ainda 3 advogados (as), 3 comerciantes, 3 empresários (as), 3 professores (as), 2 motoristas, 2 estudantes, 2 gerentes de estabelecimento comercial ou indústria, um líder religioso, um técnico em contabilidade, um diretor escolar, uma administradora, um gari, e uma dona de casa. Quatro candidatos declararam ter outra atividade que não foi identificada.


Sobre o grau de instrução dos candidatos, o site do TSE mostra que a maioria deles (as) tem o ensino médio completo (20). Onze têm concluíram o nível superior, oito terminaram o ensino fundamental e seis não atingiram essa etapa educativa. Para finalizar, 4 candidatos (as) declararam apenas saber ler e escrever.


As leituras possíveis diante desses dados são inúmeras. Cada um de nós pode fazê-las como, se e da forma que quiser. Eu, em quatro breves parágrafos, a partir do meu lugar social de fala, peço licença a você leitor para fazer algumas.


A maioria dos eleitores da cidade são mulheres (51%). As candidaturas não correspondem a esse numerário e quando as urnas forem abertas é bem possível que os homens ainda sejam maioria na Câmara municipal.


Numa cidade cuja mestiçagem história começou ainda quando o Ceará tinha apenas os caminhos das boiadas, nenhum candidato (a) se reconheceu como negro (a).


A maior parcela do eleitorado (49,32%) está abaixo de 39 anos, sendo que a maioria dos eleitores concentra-se na faixa dos 30 a 34 anos. Como se dá a identificação dos jovens da cidade com a maioria de candidatos pertencendo a uma geração diferente?


Por fim, o mais interessante pode ser observado quando decidimos estudar o grau de instrução do eleitorado. Apenas 321 eleitores da cidade de Jaguaruana têm nível superior completo. Obviamente que esse não poderia ser o grau de instrução da maioria de nossos eleitores (poderia sim...! sonho com isso), no entanto, se analisarmos o restante dos dados veremos que 11.070 eleitores são analfabetos (3.692) ou apenas declararam ler e escrever (7.378). Isso representa 39,14% dos votos válidos do município, ou seja, quase metade de nossos eleitores. Se juntarmos a esses números os (as) 6.916 eleitores (as) que declaram ter o ensino fundamental incompleto essa percentagem sobe para incríveis 63,59% do eleitorado.


Se você, querido (as) leitor (as) chegou até aqui, deve ter ficado tão impressionado quanto eu diante desses números. Resta-me apenas dizer uma única coisa: candidatos (as) (e agora podemos incluir também os concorrentes majoritários, aqueles que disputam a prefeitura), há muito o que fazer em nossa cidade. Eleitos (as) ou não, boa sorte e mãos à obra.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Mané? Sim!

Há tempos não escrevia um texto homenagem.
Não por necessidade, mas simplesmente pela correria dos dias, as pressões do trabalho que muitas vezes se tornam em opressões cotidianas. No entanto, sempre é bom parar. Refletir sobre o tempo, as pessoas, as coisas boas e ruins que acontecem, sobre a vida. E para que isso aconteça é preciso acontecer algo.
Uma das coisas que mais me chamam à reflexão é a morte. Embora ela seja parte de nossa trajetória, nunca estamos preparados para encarar tais perdas definitivas – principalmente de conhecidos e amigos, como só a morte é capaz de proporcionar. E isso aconteceu nessa semana. Soube da morte de Manuel Barbosa Rodrigues, Seu Manezinho.
Seu Manezinho foi vereador por dois mandatos e prefeito de Jaguaruana por três vezes. No momento de estruturação das cidades do Vale do Jaguaribe durante as décadas de 1980 e 1990, foi importante no processo de efetivação de uma estrutura mínima da cidade. Em seus governos dentre outras atividades calçamentou as ruas da cidade, construiu diversos grupos escolares e construiu casas populares. Enfrentou duas enchentes (1974 e 1985) e alguns anos secos. Embora tenha também perdido algumas eleições, seu papel na política partidária local é significativo: atualmente um de suas netas ocupa a chefia do executivo municipal.
No entanto, para mim, nada disso é muito importante. Embora tenha conhecido e convivido com Seu Manezinho justamente por causa desses caminhos políticos (ele prefeito e eu funcionário da prefeitura), meu reconhecimento a sua figura é por outras questões.
Talvez pouca gente saiba, mas Manezinho foi caminhoneiro e, em outros tempos, negociava com o produto mais valioso da cidade em tempos passados: a rede. Foi pai de seis filhos e avô de pelo menos 14 netos; já tinha também alguns bisnetos; sentiu a dor de perder um filho num acidente automobilístico; viu a primeira esposa adoecer e morrer, entre outras coisas. Ou seja, tirando a política, Manezinho era igual a mim ou a você. Um humano cheio de virtudes e defeitos.
Era a maior autoridade civil do município à época, mas conservava uma simplicidade extrema que beirava a humildade no trato com as pessoas. Tudo bem que fosse implacável com alguns adversários. Mas a cadeira na calçada era uma mensagem de porta aberta para todos. Podia vir quem viesse, sempre tinha um lugar para sentar.
Contudo, a coisa que mais observei em Seu Manezinho foi a vontade que ele tinha de aprender. Nunca foi um homem catedrático. Dedo em riste, pronto para dar uma lição a alguém. Esse não era ele. Pelo contrário, ele estava pronto para ouvir. Qualquer um, inclusive eu, um rapazote atrevido que contava apenas 18 anos de idade quando trabalhei com ele.
Hoje eu me considero um bom “escutador”. É possível que tenha aprendido isso com Seu Manezinho.
Gratidão, meu amigo!
Você cumpriu sua missão. Agora é hora de seguir em paz!
Kamillo Karol Ribeiro e Silva