Esta semana vivemos momentos
atípicos em nossa cidade por causa de uma foto do altar principal da Igreja de
Santana em Jaguaruana, inicialmente postada pelo jovem Daniel Santiago,
compartilhada por mim e mais de 45 amigos e comentada por inúmeros usuários do facebook,
moradores, filhos de Jaguaruana e até mesmo muitas pessoas de outras cidades e
países.
A força das redes sociais e os
comentários – às vezes contidos e objetivos, às vezes ácidos e incisivos, fez
nosso querido pároco, Pe. Raimundo Barbosa, manifestar-se nas rádios locais. Em
entrevista aos repórteres Augusto Marques da União Fm e Iranildo Silva da
Popular Fm, Pe. Raimundo esclareceu suas intenções e comentou a polêmica.
Com muita educação, assumiu que a
ideia de retirar a mesa da comunhão é antiga, mas havia dois anos que não
tocava no assunto, portanto não sabia de onde teria se originado tal polêmica.
Sem citar nomes, esclareceu que há muito mais de história da igreja por trás do
assunto, que os comentários postados nas redes sociais. Segundo o padre, a mesa
da comunhão representa uma época da igreja em que a assembléia em geral e
principalmente as mulheres não podiam se aproximar do altar principal. Teria
sido uma determinação do bispo diocesano Dom José Haring aumentar o espaço do
presbitério, daí a ideia da demolição das grades de separação do altar.
Ressurgida a polêmica, padre
Raimundo resolveu se pronunciar. Após salientar que os comentários vinham de
pessoas que não frequentavam a igreja, que não conheciam a história e que se
apegavam tão somente a coisas do passado, concluiu que há outros assuntos de
maior relevância que deveriam ser tratados nas redes sociais e que os
paroquianos não deveriam perder tempo com uma coisa tão pequena.
Declarações sobre historiadores à
parte, resolvi estudar a história da mesa da comunhão. Descobri num fórum na
internet uma ampla discussão sobre a Comunhão de Joelhos. O fórum, alimentado
por estudiosos da igreja, padre e seminaristas refere-se justamente à temática
que envolve as resoluções tomadas pelo Concílio Vaticano II, citadas pelo Padre
Raimundo na entrevista à União FM. Transcrevo alguns trechos deste fórum
abaixo.
Antes do Vaticano II, as igrejas
tinham vários altares (algumas ainda têm; a matriz de Santana em Jaguaruana,
por exemplo, tem três), o padre ficava de frente para o altar e,
consequentemente, de costas para o povo, a missa era celebrada em latim, bem
como seus cânticos. A comunhão era obrigatoriamente de joelhos e diretamente na
boca. Por isso, havia nas igrejas diversas mesas da Comunhão. Em Jaguaruana
temos apenas uma, mas em igrejas mais antigas, como no caso da Matriz de São
José, na cidade de Bezerros (Pernambuco), havia quatro Mesas da Comunhão: a
primeira, que ainda hoje existe, separa o presbitério da nave da igreja; a
segunda, que também ainda existe, separa a capela do Santíssimo Sacramento da
nave da igreja e as outras duas dividiam a nave da igreja em três espaços.
Depois do Concílio Vaticano II, outras formas de receber a comunhão foram
acrescentadas, como receber a partícula na mão. Então, estas duas últimas mesas
da comunhão– as que dividiam a igreja em Pernambuco– foram retiradas.
Segundo nos conta o professor
Flávio Roberto Brainer, participante deste fórum, “cada mesa da comunhão era
uma espécie de varanda que se estendia de um lado a outro da igreja, contendo
um genuflexório* em toda a sua
extensão, onde os fiéis vinham receber a comunhão de joelhos. Era forrada pelos
acólitos com uma toalha de linho puro momentos antes da comunhão, sendo
retirada antes dos ritos finais para a devida purificação. As pessoas mantinham
um respeito muito grande pela mesa da comunhão, de modo que ninguém nela se
encostava nem a tocava, uma vez que era sagrada. Tinha, portanto, um grande
significado litúrgico que enriquecia a celebração Eucarística da Ceia do Senhor”,
afirma.
Lembro-me bem que minha mãe não
me deixava sentar na mesa da comunhão. Nem sequer apoiar-me. Lembro das
inúmeras polêmicas sobre as pessoas assistirem missa sentadas por sobre a
edificação. A discussão não é de hoje.
O que me chamou atenção foi o
tamanho da repercussão. Nunca imaginei que o assunto tivesse tamanho alcance e,
ao contrário do que disse, o vigário, profundidade. Se é algo tão pequeno e sem
importância, por que tantas pessoas se manifestaram? Mesmo não tendo
legitimidade nenhuma, mesmo desconhecendo a história, mesmo não participando
das missas, por que tantos jovens e adultos de Jaguaruana quiseram compartilhar
e comentar o assunto?
À guisa de uma conclusão,
respondo da seguinte maneira: as pessoas se importaram com o tema. De uma forma
ou de outra, nossas histórias de vida passam pelos espaços da Matriz de
Santana. Tenham no seu currículo apenas uma missa por semana ou todos os
trabalhos pastorais possíveis na igreja, as pessoas que se envolveram nessa
discussão, antes mesmo de conhecimento acerca da história, tem sentimentos e se
emocionaram com a possibilidade da retirada da mesa da comunhão.
Por fim, é preciso dizer que mesmo
não vivendo numa democracia, mas num espaço pastoral, como salientou o vigário,
a igreja é um lugar de memória e qualquer modificação em sua estrutura física
deveria ser amplamente discutida, pelo menos com seus frequentadores. É preciso
respeitar opiniões divergentes e é necessário que se respeite também, pois, como
nos ensinou Cristo, através dos evangelhos, para Deus, nosso Pai, tudo é
importante; Ele se preocupa com a sua criação e cuida dela desde as menores
criaturas. Até os cabelos de nossas cabeças estão contados. (Mateus 10:29-30).
Como seres humanos, cheios de falhas, deixamos muita coisa passar, mas Deus,
que é perfeito em tudo, tudo sabe, tudo vê, pois Seus olhos estão sobre os caminhos de cada um nós, e Ele vê todos os nossos
passos (Jó 34:21).
*Genuflexório: Peça de madeira
fixa ou móvel usado nas igrejas, geralmente na parte de trás do banco, para que
os fiéis possam ajoelhar-se e rezar. Lembro-me, na infância de ver várias peças
desta natureza na igreja de Santana. Quem tinha condições, mandava fazer a sua
e as identificava – a peça geralmente tinha uma placa que indicando a quem
pertencia; quem não tinha dinheiro, recebia a sagrada Eucaristia na mesa da
comunhão.
Fique por dentro da discussão ao redor do mundo, leia:
http://fratresinunum.com/2009/10/05/no-que-tange-a-santa-comunhao-impera-uma-grande-necessidade-na-igreja/
Nenhum comentário:
Postar um comentário