Há tempos não escrevia um texto homenagem.
Não por necessidade, mas simplesmente pela correria dos dias, as pressões do trabalho que muitas vezes se tornam em opressões cotidianas. No entanto, sempre é bom parar. Refletir sobre o tempo, as pessoas, as coisas boas e ruins que acontecem, sobre a vida. E para que isso aconteça é preciso acontecer algo.
Uma das coisas que mais me chamam à reflexão é a morte. Embora ela seja parte de nossa trajetória, nunca estamos preparados para encarar tais perdas definitivas – principalmente de conhecidos e amigos, como só a morte é capaz de proporcionar. E isso aconteceu nessa semana. Soube da morte de Manuel Barbosa Rodrigues, Seu Manezinho.
Seu Manezinho foi vereador por dois mandatos e prefeito de Jaguaruana por três vezes. No momento de estruturação das cidades do Vale do Jaguaribe durante as décadas de 1980 e 1990, foi importante no processo de efetivação de uma estrutura mínima da cidade. Em seus governos dentre outras atividades calçamentou as ruas da cidade, construiu diversos grupos escolares e construiu casas populares. Enfrentou duas enchentes (1974 e 1985) e alguns anos secos. Embora tenha também perdido algumas eleições, seu papel na política partidária local é significativo: atualmente um de suas netas ocupa a chefia do executivo municipal.
No entanto, para mim, nada disso é muito importante. Embora tenha conhecido e convivido com Seu Manezinho justamente por causa desses caminhos políticos (ele prefeito e eu funcionário da prefeitura), meu reconhecimento a sua figura é por outras questões.
Talvez pouca gente saiba, mas Manezinho foi caminhoneiro e, em outros tempos, negociava com o produto mais valioso da cidade em tempos passados: a rede. Foi pai de seis filhos e avô de pelo menos 14 netos; já tinha também alguns bisnetos; sentiu a dor de perder um filho num acidente automobilístico; viu a primeira esposa adoecer e morrer, entre outras coisas. Ou seja, tirando a política, Manezinho era igual a mim ou a você. Um humano cheio de virtudes e defeitos.
Era a maior autoridade civil do município à época, mas conservava uma simplicidade extrema que beirava a humildade no trato com as pessoas. Tudo bem que fosse implacável com alguns adversários. Mas a cadeira na calçada era uma mensagem de porta aberta para todos. Podia vir quem viesse, sempre tinha um lugar para sentar.
Contudo, a coisa que mais observei em Seu Manezinho foi a vontade que ele tinha de aprender. Nunca foi um homem catedrático. Dedo em riste, pronto para dar uma lição a alguém. Esse não era ele. Pelo contrário, ele estava pronto para ouvir. Qualquer um, inclusive eu, um rapazote atrevido que contava apenas 18 anos de idade quando trabalhei com ele.
Hoje eu me considero um bom “escutador”. É possível que tenha aprendido isso com Seu Manezinho.
Gratidão, meu amigo!
Você cumpriu sua missão. Agora é hora de seguir em paz!
Kamillo Karol Ribeiro e Silva
Kamillo Karol Ribeiro e Silva